sexta-feira, 6 de julho de 2012

Gestão Participativa


A Comunidade SER funciona como uma organização horizontal, sem hierarquias estabelecidas, mas como lideranças emergentes, ou seja, para cada situação, um ou mais membros emergem como líderes naturais que ajudam os outros a dar conta de uma determinada demanda. Esse processo não é tão fácil, nem tão óbvio, pois é natural que nos grupos que existam pessoas com tendência dominante e outras com tendência a se deixarem dominar. Portanto, existe um esforço constante da Comunidade em trazer consciência para esse processo, de modo que os dominantes abram mais espaço para a participação de todos e os demais exercitem expressar mais as suas opiniões.

Portanto, na Comunidade SER não existem diretores ou coordenadores, a não ser em projetos específicos, onde essa definição se torna útil. Isso não significa, entretanto, que todas as decisões sejam tomadas por todos, coletivamente, pois em nossa experiência esse processo pode se revelar moroso, cansativo e ineficiente. Por isso, o processo de tomada de decisões é feito de diversas formas diferentes: algumas decisões estratégicas são tomadas por todos, outras em pequenos grupos, outras são iniciativas individuais que depois são avaliadas pelo grupo, caso gerem algum incômodo ou caso mereçam ser destacadas ou apreciadas.

Não existe uma pré-definição do que deve ser decidido por todos. Em geral, as “pautas” que cada membro tem são transformadas em perguntas, que são trazidas para a reunião semanal de quinta-feira à tarde. O grupo vota nas perguntas que mais ressoam para todos, que são discutidas utilizando-se o modelo Open Space (Espaço Aberto – veja mais em Art of Hosting). As perguntas escolhidas não são necessariamente discutidas por todos, e nem de forma verbal. Cada membro vai conversar – ou agir – em cima da pergunta que está ressoa mais com o que está “vivo” para ele, e isso pode significar que todos querem discutir uma questão, ou que o grupo vai dividir em pequenos grupos, ou que algumas pessoas nem vão participar da reunião. Em alguns casos, algumas perguntas são desenvolvidas por mais de uma reunião como, por exemplo, na construção coletiva de nosso modelo de negócios, e aí outras técnicas de gestão participativa são usadas também.

As metas a serem alcançadas pela Comunidade SER são co-criadas por todos nessas reuniões e também nos retiros de planejamento estratégico, que acontecem, em geral, duas vezes por ano, em algum lugar próximo à natureza. O principal retiro dura uma semana, e o segundo pode durar até dois dias. Às vezes, outros mini-retiros são organizados para dar conta de assuntos específicos, mas que exigem profundidade (por exemplo, a construção ou a avaliação de um projeto ou metodologia).

O monitoramento das metas não é feito no sentido de cobrar das pessoas resultados, mas sim de entender o que o cumprimento ou não das metas diz do fluxo de cada membro e da Comunidade SER como um todo. O não cumprimento de uma meta, por exemplo, pode nos contar que os interesses e propósitos pessoais ou coletivos mudaram, ou que a melhor estratégia para se alcançar um determinado resultado é outra bem diferente do que se havia imaginado no começo. Assim, o ambiente de avaliação se torna leve e as metas se tornam mais diretrizes norteadoras que objetivos a serem alcançados a todo custo.

O mais incrível é que, desta forma, alcançamos níveis incríveis de desempenho e resultado, produzindo mais do que seria possível com uma equipe tão pequena, pois quando estamos fazendo algo a partir de uma conexão profunda com nosso fluxo e nosso propósito, somos mais eficientes, determinados e apaixonados pelo que fazemos. Ao mesmo tempo, essa total liberdade faz com que os membros percebam mais rapidamente se, por acaso, o fluxo deles não está mais convergindo com o fluxo da Comunidade, e tenham mais clareza se e quando é o momento de sair da Comunidade. Nesse caso, a saída é uma forma de respeitar a própria pessoa e o grupo, e ambos os lados se sentem valorizados e respeitados. E, para quem fica, existe uma reafirmação do quanto estar na Comunidade faz sentido e, portanto, aumenta o nível de compromisso com alcançar os melhores resultados para todos.

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